sobre interesses e desinteresses
há dois meses joguei quatro plantinhas mortas no lixo. há alguns meses comprei e ganhei diversas mudas de plantas e lotei meu quarto com elas. regava fielmente uma vez por semana minhas suculentas e meus cactos, estavam crescendo e ficando bonitos por sinal. me davam orgulho. mas como tudo na minha vida, tive um desinteresse repentino. parei de aguar, parei de conversar com elas, parei de me importar. do que sobrou delas, eu ainda rego uma aqui, outra ali.
semana passada eu conheci uma pessoa no transporte durante a volta pra casa da forma mais aleatória possível: era aniversário dela, ela reclamando com um amigo que não postou foto com ela (e até a mãe dele tinha postado) e entrou um vendedor anunciando vibrador (na verdade, era um massageador mas faz parte da história). começamos a conversar e foram os quinze minutos mais engraçados e divertidos que tive com uma pessoa aleatória na minha vida. no fim, só soubemos o primeiro nome um do outro e nada mais. todos os dias eu chegava no transporte esperando esbarrar com essa pessoa novamente só pra termos de novo essa oportunidade. chegou quinze dias depois, mas pelo menos dessa vez trocamos contato de rede social. eu, que estava sempre procurando, achei. e agora que achei? zero interesse de ver essa pessoa mais uma vez.
semana passada parei de colocar água para os passarinhos. era uma tarefa que todo o sábado eu fazia. tirar do gancho, lavar, colocar água nova com um pouquinho de açúcar mascavo e deitar na rede que fica embaixo do bebedouro. em menos de dez minutos já vinha um beija flor beber sua água. me deixava reflexivo quanto a anatomia do beija flor, por mais que eu saiba como um beija flor funciona, sempre me admira ver um. a velocidade das asas, a velocidade das batidas do coração e a necessidade constante de se alimentar por conta do metabolismo aceleradíssimo. nada disso mais faz sentido depois de um tempo.
foi assim com livros, foi assim com jogos, séries e filmes. foi assim com aprendizado de instrumentos e idiomas. foi assim com esse texto que escrevo agora. foi assim comigo mesmo.
onde foi que eu errei? quando foi que fiquei assim? nada do que eu me interesso dura mais de seis meses. tem sido assim com sonhos, com projetos, com relações, com pessoas. não me sinto preparado e com aptidão para nada. penso muito nos desdobramentos de que tal assunto me acarretará e desisto. uma nova amizade? desisto. um novo curso? desisto. uma relação amorosa? desisto, ninguém vai gostar de mim desse jeito.
dentro disso ainda me lembro da banda tópaz com os versos “eu sinto saudade de sentir saudade de alguém, seja quem for”.
um desejo? de voltar a ser eu mesmo, mas até disso já desisti e nem tenho saudades.
